Bem pode o laureado Souto Moura, arquitecto muito apreciado
e distinguido nos Foruns internacionais, puxar pela cabeça, esmerar-se e caprichar no seu
projecto de tentar ocultar a gigantesca parede de betão que a poderosa EDP,
contra ventos e marés sob os protestos de esclarecidos resistentes dos
Movimentos Cívicos e insuspeitos órgãos de informação como é exemplo este
jornal, decidiu construir na foz do rio Tua em arriscada e porventura
negligente colisão com o estatuto do Douro Património Mundial.
Ainda que a sua obra possa ser aplaudida, cujo preço os
portugueses por enquanto desconhecem mas que por certo não contemplará nenhum
desconto ao dono da encomenda, ela será sempre um bonito penso de proteção em
cima duma cicatriz testemunha de má e insensata intervenção do seu executor!
Chegados ao epílogo deste tempestuoso romance configurado na
construção apressada duma barragem hidro-eléctrica no ponto onde o sofrido rio
Tua se entrega extenuado no portentoso Douro, já não vale a pena argumentar com
a destruição dum vale único pela sua singular beleza, nem da sua linha
ferroviária orgulho da Engenharia portuguesa e que com alguma imaginação
poderia ser a alavanca para o tão necessário quanto vital desenvolvimento
sustentado da região empobrecida que parece não causar preocupação aos
sucessivos governos da República. Como
também não vale a pena trazer de novo à baila os poderosos argumentos fruto de
cuidados estudos universitários que demonstram ser dispensável a intervenção no
rio Tua como fonte de aumento de produção energética.
O que está agora em apreço é a anunciada visita da Unesco,
agência das Nações Unidas para os assuntos da ciência e cultura com grande
predomínio dos desafios ambientais e que deu finalmente um sinal de alerta
recomendando o “Ralentissement” das obras que a EDP, frenética e arrogante,
desencadeou num abrir e fechar de olhos! Da Unesco, todos esperamos uma decisão
transparente, alheia a pressões e que defenda os valores um Património que
sendo único, é da Humanidade e por isso de todos nós.
É que gato escondido
com rabo de fora, não é do agrado de ninguém, nem é para os tempos que correm.
O turismo internacional que ora invadiu o Douro, “a realidade mais séria que
temos entre nós,”(1) e que tanto ajuda as nossas pobres finanças, não aceita
nem perdoará beliscaduras na imaculada simbiose da natureza e do homem. Ainda
que tenha a assinatura do melancólico e criativo Souto Moura!
(1) Miguel Torga
Mirandela, 17-7-2012
José Manuel Pavão
Na natureza nada se cria, nada se perde!!!... em Portugal tudo se corrompe a favor do poleiro politico!!! Silvino Potêncio - O Home de Caravelas de Mirandela
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