O rio corre ingénuo, como manda o seu código genético, ou a Física, ou qualquer força superior que não conheço à procura do descanso no mar salgado, de ondas brandas e bravas, conforme as luas e os labirintos de vento. Corre como se nada se passasse na sua Foz, encalço de agitações que só a um punhado de gentes mesquinhas poderá interessar.
Já correu tanta tinta, já foi visitado vezes sem conta pela morte, essa entidade sem rosto que divertida lhe deu nome de «acidente ferroviário», e mais tarde «acidente de trabalho»...
É no espaço envolvente, no colo do seu caminho ruidoso e rápido que querem amansá-lo, qual touro de morte, como se uma corrida se tratasse. O inteligente dizia, palavras de um poeta Ary, que acabaram as canções, mas com bandarilhas de esperança afugentamos a fera, estamos na praça da Primavera.
O nosso presidente
A falta de visão, a pressão política, o contexto, todas são as desculpas para justificar acções passadas. Temos a comandar a nossa nau, que por sinal está perdida, um ser que no passado foi conivente com o fim da marinha mercante, da frota pesqueira, e que hoje, pasme-me, aconselha a que nos viremos para o mar. Uma pessoa que gosta muito de comboios e que foi o subscritor do fim de 1000 km de via-férrea em Portugal há um bom par de anos, e que acha que não se pode salvar o Tua, «por causa de uma barragem»...como se não pudesse opinar, como fizeram tantos nomes da política e da cultura.
O nosso desgoverno
Só falta cimento, porque a paisagem está demoniacamente destruída, e já que o está, então que lhe encham os fundilhos de betão...
As nossas facturas
Anos de luta, de esclarecimento e de debate. Ou ando distraído, ou não ouvi um único argumento que justificasse o plano de barragens, e muito menos a do Tua. No programa Repórter TVI, bem recente, ninguém «justificou» (nem na forma tentada) o roubo que está disfarçado de engenharia financeira, como se de um corso se tratasse...
O PM de alguns
Salvaria o Corgo, salvaria o Douro, salvaria o mundo, mas era na oposição. Agora PM, faz concorrência com o presidente (o acima referido neste texto), e já arrumou com umas boas centenas de km de ferrovia. É a visão das reservas de petróleo a crescer, as auto-estradas cheias de veículos a queimá‑lo, o Estado a encaixar milhões, a mobilidade das pessoas resolvida, a verdadeira sustentabilidade de gabinete lisboeta com cheiro a rio lavado pelo cais das colunas...
Cultura e Ambiente
Temos em Portugal desde há décadas um mau Ambiente na Cultura (cuidado com o paredão!)...
Perguntas inocentes de um cidadão cansado:
- Qual é a limitação legal para que não se interponha de novo um pedido de classificação da linha do Tua como património único a preservar?
- Porque não se unem de vez TODOS os que sabem que o que se está a fazer no Tua é um crime, com nome, rosto e responsáveis?
- Porque não se terminam de vez as promoções de 50%, sejam doces ou amargas?
- Porque não houve ainda quem, esclarecido, conseguisse uma providência cautelar para se perceber os contornos do EIA, e das conclusões inexistentes sobre impactes de todo o programa de barragens , da qualidade das águas, da erosão costeira, do que se ganha e perde economicamente, e do património mundial da humanidade, entre outros esquecimentos?
Como me dói este Portugal dos pequeninos com contas bancárias de milhões!...
José Cândido, 2012-05-15
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