Eis
uma semana cheia de boas notícias:
- A electrificação por muitos pugnada da Linha do Douro até Marco de Canaveses,
- A futura reentrada do carro eléctrico em Matosinhos.
Pena
que nenhuma das duas notícias esteja enquadrada numa qualquer estratégia.
São
óptimos fogachos para auto-promoção política de quem está convencido que está a
realizar uma grande obra, e na verdade são realizações que reclamámos em sede
própria, como demais pessoas em exercício de cidadania, mas que pecam por não
passar disso mesmo: fogachos.
Para
quem andou distraído, relembro que a Câmara do Porto solicitou ao Governo que
dispensasse os eléctricos do discutível pacote de privatização dos STCP. Dado o
deferimento de tal pedido, anunciou-se que «giro giro», era ter eléctricos à
saída do terminal de cruzeiros do Porto de Leixões para levar os turistas ao Infante.
O
meu entusiasmo ficou nublado pelos seguintes factos:
-
Qualquer paquete transporta no seu bojo
milhares de turistas;
-
Estes, com pouco tempo para conhecer o
Porto - normalmente são escalas técnicas - saem a correr do terminal à procura
de um transporte que os leve a conhecer a cidade com nome de vinho fino;
-
Um qualquer eléctrico perfilado na
paragem não resolveria rigorosamente nada para nenhum dos lados das «partes
interessadas»: O Porto ganharia a visita de 40 (?) pessoas e os restantes turistas
apeados ficariam tristes a ver partir o dito eléctrico;
Quem me terá dito que era um só
eléctrico que estaria à espera, perguntar‑se‑ão e eu respondo com perguntas:
-
Porque destruíram a remise dos
eléctricos no Porto para plantar uma coisa chamada «casa da música», o que
acelerou ainda mais a perda de material circulante,
-
Quantos eléctricos temos operacionais?
E
vem-me à memória outras questões simples que merecerão alguma reflexão:
-
Levar os turistas dos cruzeiros ao
Infante, assim é anunciado, é o mesmo que dizer que as obras da Rua de Mouzinho
da Silveira, há anos anunciadas como a oportunidade de fechar um anel e fazer
ligação da Ribeira à Praça por carris não foram aproveitadas para esse
desiderato e como tal, perdeu‑se uma oportunidade de ouro para fazer obra
poupando dinheiro ao erário.
-
Desde há relativamente pouco tempo, o
pagamento do bilhete de eléctrico deixou de poder ser efectuado com o «passe»
ou andante normal, passando a ser um transporte de elite, porque
(ainda) mais caro. Perdeu a cidade um fantástico meio de transporte público que
num instante leva os passageiros dos Clérigos à Batalha, e perdeu o turista o
contacto com as gentes que mantinham o eléctrico como transporte de eleição.
-
Olhemos Lisboa: por lá nunca o
eléctrico foi posto em causa e até coexistem (e tão bem) os novos com os
antigos! Por cá teria sido brilhante recuperar a Avenida da Boavista com a
reintrodução de eléctricos (que até podiam desviar-se e entrar no Parque da Cidade),
recorrendo aos tais novos eléctricos - se não sabem, está em requalificação a
dita artéria, perdendo-se de vez as árvores no canal central onde passavam
barulhentos os eléctricos.
Não
me entendam mal: se Matosinhos passar a ser a 3ª cidade do país com eléctricos
será motivo de grande satisfação!
E
chegar ao Marco em comboio Urbano, a horas e confortável (a menos dos WC) será
uma vitória da razão. Pena é que a Linha do Douro e seus afluentes tenham sido
votadas ao abandono, como se a linha não fosse ela própria parte da paisagem
reconhecida como património mundial e fosse um meio de excelência para ligar
patrimónios da humanidade e por si só contribuir fortemente para combate de
assimetrias regionais e para a mobilidade das pessoas, seja em trabalho, seja
em lazer.
Para
quando teremos uma linha do Douro de que nos orgulhemos, com ligação a Espanha
e com os afluentes (Tâmega, Corgo e Tua) a complementar a oferta de
experiências únicas?
Percebem
porque me dana esta alegria?
José
Cândido, 2014/09/25