sexta-feira, 1 de maio de 2015

EDP - O que parece, é. (É tão giro ser um "-ista")

EDP - O que parece, é. (É tão giro ser um "-ista") 30 Abril 2015, 11:25 por Nicolau do Vale Pais É muito giro ser um "-ista": fascista, comunista, anarquista, corporativista, economista, accionista. É porreiro podermos encaixotar a nossa responsabilidade no molde que mais nos convém. Haja liberdade e sorte. A menina: "Mas deixe-me dizer-lhe do nosso tarifário e condições de adesão"; e eu: "mas tem bi-horário?…", e ela: "não". Ups, eu, de novo, perplexo: "mas de que liberalização e de que mercado é que me está a falar? Eu gastei centenas de euros em acumuladores de energia para o tarifário económico". E ela: "boa tarde, obrigado.". De nada. Com a EDP, o que parece, é. Parece que o preço sobe mais e ganhamos cada vez menos? Sim, de facto. De acordo com a ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) são 3,3% de subida em 2015, em proporção inversa aos rendimentos dos portugueses. Parece, em absoluto, um roubo? É. Portugal tem o o sétimo kilowatt mais caro da Europa. Mas, esperem, sejamos equitativos: de certeza que, em termos relativos, é também um roubo? É: quando posto em perspectiva com o poder de compra, Portugal é o terceiro país que mais paga pela electricidade. Um cenário aterrador, num país onde algumas estimativas apontam para um terço dos lares - ou famílias - sem qualquer possibilidade de aquecerem as suas moradas. Não cabe nas cogitações nem de Governo nem de oposição; a EDP queima. Esta história tem tanto de evidente e de equívoco como a outra, a dos combustíveis. O conflito entre a eléctrica e Governo lá continua, por causa de uns "peanuts" de 25 milhões de euros que o Governo quer que caibam à própria EDP, por intermédio da chamada tarifa social. "Peanuts"? Sim, perante este estado de coisas, os accionistas da EDP assinaram de cruz, esta semana, a distribuição de 676 milhões de euros dos dividendos de 2014, mais de metade dos lucros da empresa no ano transacto. Esses lucros subiram, numa economia em recessão, 6%, em termos homólogos. Uma festa sem concorrência real, portanto, a partir de um bem essencial à dignidade das pessoas e a competetividade da economia. Há uma coisa, no entanto, que não é o que parece: a EDP parece privada. Não é. Ou, pelo menos, não o é no sentido que se pretendia que fosse, que seria o da melhoria das condições (em qualidade e preço) do serviço. Tal e qual como com a "liberalização" do mercado dos combustíveis, os efeitos são despiciendos, se não mesmo nulos. Mas há mais: durante o consulado de José Sócrates, convém não esquecer, entre barragens do Tua e ventoinhas nos montes, saíram milhões e milhões de euros para nada que se visse ou importasse aos contribuintes e à sua qualidade de vida. Perdemos mais ferrovia, mais paisagem, mais impostos; o preço, esse, sobe. E subirá. Este é um cenário que não cabe no conselho de sábios de António Costa. "Agora só falta aqui é cimento", dizia Sócrates, apanhado por um indiscreto microfone, em vista ao colossal monumento à Esquerda "moderna" que é a Barragem do Tua. Ao seu lado, seguia António Mexia. Mexia já tranquilizou as hostes nacionais que o interrogaram sobre o aumento de dívida a que EDP se sujeitou, nomeadamente por causa da valorização do dólar. A Eléctrica nacional tem uma "carteirinha" de dívida que ronda agora os 17,5 mil milhões de euros - coisinha pouca, algo como um quarto do resgate pedido pelo país todo à troika. E só se podem surpreender os mais distraídos quando Mexia considerou - em ano de distribuição de lucros, note bem - os resultados como "positivos". Afinal, esta é a mesma figura pública que veio dizer, enquanto ex-ministro das Obras Públicas de Pedro Santana Lopes, que "Portugal exagerou na construção de estradas". Nada me surpreende, de facto, a não ser a conta da luz. É muito giro ser um "-ista": fascista, comunista, anarquista, corporativista, economista, accionista. É porreiro podermos encaixotar a nossa responsabilidade no molde que mais nos convém, haja liberdade e sorte; afinal, a sua vidinha depende apenas em qual dos caixotes foi cair, quando o destino o lançou nesta vida. O último a sair que apague a luz. O que parece, é.

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